domingo, 25 de janeiro de 2009
Uma História Diferente
Começa ao nascer do dia, quando o sol vem bem morninho, mas sem doer de ardido.
Tem seu meio ao meio dia, lá pela hora do almoço, quando a sombra se esconde bem debaixo dos seus pés.
E o fim é bem de noite, na hora de ir dormir, quando dá vontade de tudo: de brincar, de ler, sorrir. Dá vontade de ir ao banheiro bem umas três vezes. Dá vontade de rir alto para acordar o vizinho, que é muito implicante, mas a gente até desculpa pois ele é tão velhinho, tão cheio de cabelos brancos, tem tantas rugas na cara, que a gente fica imaginando com quantas coisas ele já se preocupou.
E é no fim do dia, quando começa a noitinha, que a vida parece boa. Me penduro na janela, apontando as estrelinhas, para ver se nasce verruga. É nessa hora que eu penso, eu sonho bem acordado, em me tornar astronauta, para apontar bem de perto, assim, encostando o dedinho, nesses pedaços de vidro, nessas contas tão brilhantes, nesses pedaços do céu.
E sonha em se tornar grande, mais parecendo um gigante, só pra colher estrelinhas e pendurá-las na noite, assim, por toda a cidade, só para ver se o mundo sorria, se as rugas do vizinho velhinho desapareceriam, se as bonecas andavam, os carrinhos corriam sozinhos, e as bicicletas do mundo fossem todas pedalando, sem ninguém, até encontrar outro mundo onde todos esses sonhos não fossem sonhos.
E elas voltariam depois, bem depressinha, buscar a gente para ver, antes que as mamães se cansassem e colocassem todas as crianças para dormir.
Dedo Arretado
daqueles sempre do contra.
Não gostava de meia
e então fazia um furo
e ficava espiando a vida
pelo escuro do sapato.
Tinha aflição de chão,
e ficava todo empinado
apontando para o céu
quando o menino levado
deixava os sapatos de lado
e ia brincar por aí.
Mas era um dedão
muito enxerido:
não gostava de dormir
dentro da coberta
e era só o menino cochilar
e ele já dava um jeitinho
de sair.
E o menino vivia acordando
de pé gelado!
Mas esse dedo atrapalhado
um dia levou o troco
para nunca mais esquecer:
ganhou um galo na ponta
de tanto forçar o sapato
e do lado, fiquei com dó,
enroscou-se num preguinho
que estava bem escondido
esperando sua vez.
E o dedão se acalmou
por uma semana e um dia
até começar, ai que coisa!,
tudo, tudo, outra vez!
Êta dedãozinho safado!
Êta Família - 1
Paulinha tem uma irmã, Gabriela
que é mais velha que Paulinha
que é mais nova que Gabriela.
Um dia, Paulinha levou um susto
e chorou e chorou e chorou muito
quando viu faltando, na boca de Gabriela,
os dois dentinhos da frente.
Daí Paulinha resolveu resolver o seu problema
e entrou em entendimento com sua mãe, a Regina,
querendo saber quantos anos precisaria fazer
para que não caíssem seus dentes.
E as duas conversaram, tentando achar a solução
até que Paulinha resolveu:
no seu aniversário não faria cinco anos
faria treze.
E foi isso que aconteceu
e quem comprou as velinhas
não foi eu.
A Menina
A menina tentou de tudo
cutucou o papai, a mamãe
puxou o rabo do gato
e acendeu a luz do banheiro
sem precisar.
Brigou com as bonecas
chutou as lãs da vovó
empurrou bem forte a cadeira de balanço
do vovô.
E tudo e todo e qualquer um
e até qualquer coisa que passava
a menina dava um jeito de brigar.
E estava assim
só porque ninguém lhe respondia
ninguém lhe contava
ninguém lhe dizia
por que é que o céu só ficava azul
na televisão?
A Fila
Você sabe o que é uma fila?
É um monte de gente nervosa
esperando, da próxima vez,
ter melhor sorte.
Ou então que a pessoa da frente
(assim como a da frente pensa
de quem está na sua frente)
seja bem rápida
e se libere depressa
da posição dianteira
de quem chegou primeiro.
Daí ela entra!
Uma pessoa sozinha
quando entra em qualquer sala
depois de esperar na fila
não é um único nunca:
é sempre um pedacinho
de uma fila comprida
que só acaba no finzinho
quando o último entra,
aliviado.
E a pessoa que atende
essa fila interminável
nunca é uma fila
é sempre um sozinho
diante de tantos pedaços
de uma fila maluca
que começou de manhã
e só acabou quando a noite
pendurou a lua no céu
e o sol foi dormir.
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