quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Apelido
Apelido é uma coisa tão antiga,
mas tão antiga,
que eu duvido que alguém sabia dizer
quem inventou.
Aposto que na Grécia antiga
ou quando o mundo começou
tinha sempre alguém
chamando os outros
de quealquer coisa próxima
de um nome carinhoso,
quem sabe talvez de "Mô".
Tem gente que, no telefone,
nunca consegue dizer "alô"
e fica sempre no nosso ouvido
"viu bem?", "ai amor!".
Também acho muito engraçado
quando vamos na quitanda
ou até mesmo na feira
ouvir dizer, ai que coisa!,
"Ei tia, sabe quanto custa a pera?".
Mas o pior de tudo
eu acho que é na escola
quando algum gozador
olha na gente, e de cara,
arranja um nome engraçado
que acompanha a gente
até aquele dia
que não sabemos quando vai ser.
Eu consegui um
que não posso me livrar
mas se pensam que eu conto
podem sentar e esperar!
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Julinha
Julinha, menina linda
medo do quê você tem?
Será que é do escuro?
ou então do sol bem forte?
ou será que é da chuva?
ou ainda dessa brisa
que desmancha teu penteado
tirando o cabelo da fivela?
Julinha menina de sonhos
por quê tem medo do céu?
O infinito é azul
as estrelas são de prata
e é na lua que moram
os suspiros de todos os poetas.
Julinha menina doce
por quê tem medo do mar?
O mar é feito de ondas
enfeitado de conchinhas
que reflete a prata da noite
e o ouro de todo dia.
Julinha menina minha
larga esse medo e vem cá
vamos juntas, meu tesouro,
pegar o elevador de nuvens
subir até o infinito
brincar de bola com o mundo
e, quem sabe, se tudo der certo,
vamos voltar para o jantar.
Afonso
Afonso, o canário
canta
e me encanta
quando não canta de manhã.
Afonso, canta,
e se desfaz em chilreios
e acompanha músicas
e me acorda
toda manhã.
Se acendo a luz de madrugada
ele acha que o sol nasceu
e o dia se faz tarde
e canta...
Se abro a torneira
ele se imagina na mata
que nunca conheceu
ao lado de uma cachoeira
e canta...
Se converso ao telefone
ele, confuso canário,
acha que minha voz é música
e canta...
Se o microondas apita,
se o liquidificador liquidifica,
se a chaleira chia,
se a televisão se liga,
tudo parece música
aos ouvidos canários de Afonso
e ele canta...
Se estou triste, quieta,
a música se cala
e Afonso, com a compreensão de um canário cativo
se põe a cantar
para espantar minha tristeza
encher de som minha quietude
e me animar a continuar.
Afonso, mais que um canário
é minha vontade de viver,
mesmo que cante alto demais
todas as manhãs.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Saudade das crianças
A saudade é uma coisa engraçada
aperta primeiro o pé
(e a gente põe a culpa no sapato novo),
depois aperta o joelho
(e juramos não usar mais meia),
sobe então para o pescoço
(jogamos fora o colar).
Mas quando chega na cabeça
não tem remédio que ajude:
tentamos disfarçar cantando,
assobiando ou dormindo.
Mas não tem jeito ou maneira
de disfarçar isso aí
então eu fico quieta
fecho os olhos, apertadinhos,
conto até cem na cabeça
e vou visitar, um por um,
todos os meus sobrinhos.
Êta Família - Oscarzinho
Quando eu tinha uns cinco anos
eu era muito baixinha
e pra mim
banheira era piscina,
igreja era arranha-céu,
represa era mar.
Mas eu era tão medrosa
de algumas coisas da vida
que cachorro virou leão
gato virou cachorro
urubu era avião
rato já era gato
barata parecia aranha
aranha era um sufoco
e pulga era só alergia.
Mas tinha também uma coisa
que era boa e era só minha
quando meu primo Casinho
fazia uns papagaios imensos,
bem coloridos e brilhantes
e os colocava no ar.
Daí eu me sentia princesa
rainha de todos os ventos
dona do céu de uma cidade
pequena, no morro e mineira.
Daí o mundo era que era
somente pipas coloridas.
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Menino Difícil
Era impossível,
História Maluca
mas que eu não sei contar
pois quando chega na metade
me bate uma baita dúvida:
a princesa era o sapo
e o príncipe era a pulga?
Tem outra história ótima
mas também fico confusa:
o sapatinho da moça
que era tão borralheira
era de vidro de doce
ou de papel celofane
que é um papel bem fininho
que daria direitinho
pra fazer tal sapatinho?
E outras mais me confundem,
o que é que eu posso fazer?,
confundo chapéuzinho com boina,
lobo mau com remédio pra tosse,
gavião com passarinho,
e ai!, se alguém me escuta!,
sempre achei que o Pato Donald
virou cisne no finzinho
de mais de uma historinha.
Só existe uma história
difícil de confundir:
é aquela da mocinha
que espeta o dedo na agulha
quando está fazendo um lenço
e depois dormia cem anos
até que sete anõezinhos
montados num burrinho branco
a levavam adormecida
daquele castelo encantado
e depois de umas férias no campo
respirando o ar tão levinho
a moça assustada, acordava,
e dava pra cada anãozinho,
uma maçã diferente
e eles viravam grilos
que toda noite, no campo,
cantavam na janela da moça
pra coitadinha dormir.
Será que me confundi?
sábado, 29 de setembro de 2007
Livro Bom
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Brincadeira
Quando me sinto sozinha
eu brinco com meu dinossauro.
Não ria, pois é verdade
e eu te conto como é.
Levante sua mãozinha
e olhe bem seus dedinhos:
são cinco, de vários tamanhos
que quando estão contra a luz
viram dedos de gigante.
Fique olhando a parede
a mão na frente da lâmpada
(é assim que ela cresce
até se tornar tão grande).
Coloque os cinco dedinhos
todos virados pra baixo
(como se fosse um banquinho:
a mão, lá em cima, é o estofo
e os dedos, lá em baixo,
os pezinhos).
Daí então levante,
mas bem devagarinho,
aquele dedo do meio
o mais alto, o mais grandinho.
E quando ele estiver lá em cima,
o mais alto que conseguir,
vire devagar a cabeça
e olhe para a parede.
Mas não se assuste com ele
é só um dinossaurinho
feito com cinco dedinhos
contra a luz, lá na parede
que vira seu brinquedinho
toda hora que você,
lá no fundo, bemno fundo,
se sentir assim tristonho,
se sentir muito sozinho...
Daí achou um amiguinho!
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Segunda-Feira
Hoje tá frio...
Me encolho na coberta pra ver se o sol aparece mais depressa.
Hoje tá frio...
Ainda é noite lá fora e o galo da vizinhajá ligou seu despertador.
E ele fica cocoricando arretado!
Hoje tá frio...
E se eu olhasse pela janela veria cem estrelas a me piscar "Vem, vem cá brincar!"
Hoje tá frio...
E pensar que eu tenho aula quando o dia clarear
ter que sair do quentinho, colocar o uniforme gelado
tentar engolir leite morno, morder o pão lambuzado
gritar para o cachorro parar de latir no meu ouvido
brigar com o irmão mais novo
pedir lanche pro recreio
fazer cara de descontente, careta pra escovar os dentes
arranjar desculpa na escola, por não ter feito os deveres
fazer fila no banheiro,fazer fila lá no pátio
apagar o quadro-negro e me encher todo de pó
e no fim de tanta coisa, esperar o meio-dia
dar um tchau pra todo mundo
e rir feliz quando for
no campinho jogar bola.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Mari-Mari-Mariana
que ganhou uma bicicleta
e ficou tão contente
tão eufórica, tão alegre
que não sabia o que fazer:
se subia pelas paredes
abria a janela e gritava
ou entrava na geladeira
só pra ver se de tão contente
tão feliz que ela estava
não virava um picolé
daqueles bem vermelhinhos
que podeia até ser de morango.
Ela ficou tão... tão... tão alegre
ela ficou tão feliz
que não sabia o que dizer.
Chegou perto de sua mãe
mas não abraçou, só beliscou;
foi pra perto de seu pai
mas não beijou, só fugiu;
quis acordar a irmãzinha
telefonar para a avó
quis chamar a vizinha
apitar para o guarda-noturno
cantar que nem passarinho
até que ela ouviu:
"Mariana já é tarde
larga tudo e vem dormir".
Daí ela levou um susto
pois jurava ter visto
o mundo todo clarinho
com um baita sol lá no céu.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
A Sapa
Silêncio...
As Mãos de Clarinha
Clarinha estava muito preocupada
com suas mãozinhas.
Ela estava desconfiada,
já tinha quase certeza,
que todo dia de noite
a mão direita brigava com a esquerda.
Era uma coisa chata
isso de briga de mãos,
pois se as duas caíssem de tapa
alguma mão mais nervosa
poderia acertar um tabefe
em qualquer outra parte do corpo
que não estivesse na briga.
E Clarinha pensou muito,
pensou uma tarde inteira,
tentando achar uma maneira
de não deixar as mãozinhas´
baterem na perna, cabeça,
e até quem sabe, ai que dor!,
em algum lugar mais doído
ali perto do nariz.
Daí lá pelo fim da tarde,
já bem de tardezinha,
Clarinha encontrou a solução:
já que as duas mãos brigavam,
não suportavam se ver,
ela arranjou uma calça
com um bolso de cada lado
e guardou cada mãozinha
ali, bem escondidinha,
pra acabar com o perigo
das duas se debaterem.
E daí foi um sossego!