quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Julinha


Julinha, menina linda
medo do quê você tem?

Será que é do escuro?
ou então do sol bem forte?
ou será que é da chuva?
ou ainda dessa brisa
que desmancha teu penteado
tirando o cabelo da fivela?

Julinha menina de sonhos
por quê tem medo do céu?
O infinito é azul
as estrelas são de prata
e é na lua que moram
os suspiros de todos os poetas.

Julinha menina doce
por quê tem medo do mar?
O mar é feito de ondas
enfeitado de conchinhas
que reflete a prata da noite
e o ouro de todo dia.

Julinha menina minha
larga esse medo e vem cá
vamos juntas, meu tesouro,
pegar o elevador de nuvens
subir até o infinito
brincar de bola com o mundo
e, quem sabe, se tudo der certo,
vamos voltar para o jantar.

Afonso



Afonso, o canário

canta

e me encanta

quando não canta de manhã.

Afonso, canta,

e se desfaz em chilreios

e acompanha músicas

e me acorda

toda manhã.

Se acendo a luz de madrugada

ele acha que o sol nasceu

e o dia se faz tarde

e canta...

Se abro a torneira

ele se imagina na mata

que nunca conheceu

ao lado de uma cachoeira

e canta...

Se converso ao telefone

ele, confuso canário,

acha que minha voz é música

e canta...

Se o microondas apita,

se o liquidificador liquidifica,

se a chaleira chia,

se a televisão se liga,

tudo parece música

aos ouvidos canários de Afonso

e ele canta...

Se estou triste, quieta,

a música se cala

e Afonso, com a compreensão de um canário cativo

se põe a cantar

para espantar minha tristeza

encher de som minha quietude

e me animar a continuar.

Afonso, mais que um canário

é minha vontade de viver,

mesmo que cante alto demais

todas as manhãs.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Saudade das crianças





A saudade é uma coisa engraçada

aperta primeiro o pé

(e a gente põe a culpa no sapato novo),

depois aperta o joelho

(e juramos não usar mais meia),

sobe então para o pescoço

(jogamos fora o colar).

Mas quando chega na cabeça

não tem remédio que ajude:

tentamos disfarçar cantando,

assobiando ou dormindo.

Mas não tem jeito ou maneira

de disfarçar isso aí

então eu fico quieta

fecho os olhos, apertadinhos,

conto até cem na cabeça

e vou visitar, um por um,

todos os meus sobrinhos.

Êta Família - Oscarzinho


Quando eu tinha uns cinco anos
eu era muito baixinha
e pra mim
banheira era piscina,
igreja era arranha-céu,
represa era mar.
Mas eu era tão medrosa
de algumas coisas da vida
que cachorro virou leão
gato virou cachorro
urubu era avião
rato já era gato
barata parecia aranha
aranha era um sufoco
e pulga era só alergia.
Mas tinha também uma coisa
que era boa e era só minha
quando meu primo Casinho
fazia uns papagaios imensos,
bem coloridos e brilhantes
e os colocava no ar.
Daí eu me sentia princesa
rainha de todos os ventos
dona do céu de uma cidade
pequena, no morro e mineira.
Daí o mundo era que era
somente pipas coloridas.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Menino Difícil

Era um menino que não sabia como falar
e o coração inchava no peito de vontade
e depois, murchava.
Era impossível,
da boca do menino só saía um grande e
indeciso: - Ahhhhh!!!
Êta menino difícil!
Era simples para o menino dizer:
"Como vai?", "Até logo!" e "Obrigado!"
mais um grito de contentamento não saía
muito menos um berro de raiva.
Ele engolia lágrimas, mordia a língua,
trincava os dentes, roía as unhas
e não falava o que sentia.
Era um desespero!
Daí ele ficou matutando
era preciso resolver esse problema.
Pensou uma tarde inteira sentado no meio-fio
pensou de noite, deitado, tentando espantar o sono
com a enormidade do problema.
E o problema já estava virando monstro!
No outro dia, cedinho, o menino levantou
e voou para o banheiro.
Olhou seus olhos no espelho.
Abriu a boca para sua imagem e disse:
"Você é um cara legal!"
Daí saiu pela casa e foi encontrando pessoas
"Eu te adoro, mamãe!"
"Êh pai, você é um cara batuta!"
E foi falando o que vinha na cabeça
e ele não guardava
foi soltando pela boca o que o coração mandava.
A avó desse menino, donha Sinhá, é mineira,
quando viu o ocorrido, ficou toda lampeira
"Ai que bom! O meu netinho deve de ter visto
passarinho verde!".

História Maluca

Eu conheço uma história linda

mas que eu não sei contar

pois quando chega na metade

me bate uma baita dúvida:

a princesa era o sapo

e o príncipe era a pulga?

Tem outra história ótima

mas também fico confusa:

o sapatinho da moça

que era tão borralheira

era de vidro de doce

ou de papel celofane

que é um papel bem fininho

que daria direitinho

pra fazer tal sapatinho?

E outras mais me confundem,

o que é que eu posso fazer?,

confundo chapéuzinho com boina,

lobo mau com remédio pra tosse,

gavião com passarinho,

e ai!, se alguém me escuta!,

sempre achei que o Pato Donald

virou cisne no finzinho

de mais de uma historinha.

Só existe uma história

difícil de confundir:

é aquela da mocinha

que espeta o dedo na agulha

quando está fazendo um lenço

e depois dormia cem anos

até que sete anõezinhos

montados num burrinho branco

a levavam adormecida

daquele castelo encantado

e depois de umas férias no campo

respirando o ar tão levinho

a moça assustada, acordava,

e dava pra cada anãozinho,

uma maçã diferente

e eles viravam grilos

que toda noite, no campo,

cantavam na janela da moça

pra coitadinha dormir.

Será que me confundi?