quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Afonso



Afonso, o canário

canta

e me encanta

quando não canta de manhã.

Afonso, canta,

e se desfaz em chilreios

e acompanha músicas

e me acorda

toda manhã.

Se acendo a luz de madrugada

ele acha que o sol nasceu

e o dia se faz tarde

e canta...

Se abro a torneira

ele se imagina na mata

que nunca conheceu

ao lado de uma cachoeira

e canta...

Se converso ao telefone

ele, confuso canário,

acha que minha voz é música

e canta...

Se o microondas apita,

se o liquidificador liquidifica,

se a chaleira chia,

se a televisão se liga,

tudo parece música

aos ouvidos canários de Afonso

e ele canta...

Se estou triste, quieta,

a música se cala

e Afonso, com a compreensão de um canário cativo

se põe a cantar

para espantar minha tristeza

encher de som minha quietude

e me animar a continuar.

Afonso, mais que um canário

é minha vontade de viver,

mesmo que cante alto demais

todas as manhãs.

Nenhum comentário: